sábado, 22 de setembro de 2007

Comportamento Animal - Caçada de Onça


ONÇA, "onça-pintada" ou "jaguaretê" (impropriamente o povo da cidade lhe dá o nome de "tigre") Carnívoro da família Felidae, Panthera onsa. É pouco menor do que seu parente asiático, o tigre, pois atinge 1,2m de comprimento, sem a cauda, que mede 60cm; a altura é de 85cm. A cor é amarelo-ruiva, com cinco séries de rosetas pretas parte dessas rosetas têm no centro uma pequena mancha preta; outras são irregulares;nas extremidades e principalmente na cara são substituídas por manchas de vários tamanhos, a cauda tem anéis pretos, e a ponta também é preta. Os caçadores distinguem variantes: "canguçu", que é um pouco menor, de cabeça mais grossa e com manchas no corpo menores e mais numerosas, e a "onça-preta", que é de colorido escuro, onde dificilmente se destacam os contornos das rosetas. Estas variantes, contudo, o zoólogo não consegue fixar nem como subespécies.
Onça

A onça tem todos os predicados para dominar e, de fato, impera no sertão. Trepa em árvores com a mesma facilidade com que atravessa os maiores rios; não há quem a iguale nos saltos em altura e em distância, e a tudo isso alia uma sagacidade e habilidade de uma emérita caçadora. Em geral contenta-se com porcos-do-mato, capivaras ou veados: se a caça é pouca e houver gado na região, os criadores pagam largo tributo. É ao crepúsculo que a onça prefere sair à caça; depois de subjugada a vítima, ela carrega para um esconderijo, suga-lhe o sangue e, sobrando alguma carne, guarda a carcaça para o dia seguinte.Empanturrada, vai dormir em lugar seguro, entre caraguatás ou no espesso da capoeira. O touro é o único animal que ela respeita, mas, forçada à luta, ainda assim às vezes o vence. Também os porcos-do-mato, reunidos em vara, sabem resistir-lhe; por isso a onça espreita ocasiões oportunas em que possa surpreender os que estejam desgarrados. Quanto ao homem a onça sabe que é perigoso medir forças com ele, e por isso são relativamente raros os acidentes excetuando-se os de pura temeridade. Claro está que o caçador que tiver errado o tiro e for obrigado a esperar a fera a facão, na melhor das hipóteses, sai gravemente ferido da refrega. (No sertão dá-se o nome de "resto de onça" a essas vítimas). Contam-se casos de onças que perderam o medo do homem e que daí por diante se aproveitam de todas as ocasiões para saborear novamente tal carne e, de preferência, de gente de cor. Em compensação registraram-se casos autênticos de caçadores que, sem maiores acidentes, mataram elevado número de onças só a facão ou com lança. Diz Varnhagen a respeito dessas caçadas: "Se estais seguro de que o valor não vos há de faltar, posso-vos dar a segurança de que no combate a fera cairá a vossos pés, quer por meio de tiro bem à queima-roupa, quer pela arma branca, se fordes munidos com uma faca e uma forquilha; pois com a forquilha enchereis as goelas da fera quando vo-las abrir e depois de assim a terdes assegurada, lhe caireis com a faca entre as espáduas. Para melhor se defender, poderá o caçador de onça levar sempre consigo uma grande pele de carneiro, com lã crescida, a qual no momento do combate usará em forma de manto, com o que terá a segurança que a onça, saltando de improviso às costas ou aos braços, não os destroçará."

Damos a seguir a descrição de uma caçada à onça, narrada pelo Comandante Pereira da Cunha (Viagens e Caçadas, p. 142).
“Com a máxima cautela, os dois zagaieiros à frente, o Nelson entre eles, eu e o Gomes logo atrás, o camarada puxando a retaguarda, penetramos o acurizal. Um belo espetáculo oferecia-se aos olhos dos caçadores. A denodada cachorrada acuava um enorme macharrão, que, entre sentado e de pé, com as costas protegidas por um acuri, a boca escancarada, de onde partiam urros de guerra, as presas ameaçadoras a descoberto, os braços abertos e as fortes garras saltadas, fazia frente aos valentes cães.
O Nelson visou um pouco atrás do maxilar e um pouco acima, fazendo partir o tiro; o animal rolou por terra, e a cachorrada avançou. Rápido, porém, uma nuvem de poeira levanta-se, os cães afastam-se, e o macharrão, reerguendo-se, procura apanhar um deles. Mas nosso grupo também tinha avançado, e a onça, deparando com ele, salta sobre um dos zagaieiros. A enorme força e o grande peso do animal enfurecido deveriam dominar o valente Coriango; este homem já havia morto muitas onças como zagaieiro, e sua grande prática de muito lhe valeu nesse momento crítico; assim, com calma e perícia, recebeu o macharrão na ponta da zagaia e por tal forma, que o derrubou por terra. O outro zagaieiro cravou, por seu turno a zagaia no peito do animal. A cachorrada, assanhada, mordia raivosa o terrível inimigo que ainda assim, ferido e subjugado, apanhou um dos cães e quase o mata; para salvá-lo o Gomes atirou na cabeça do macharrão, acabando de matá-lo."
O Jardim Zoológico de Nova York comprou certa vez urna onça fêmea, a fim de que fizesse companhia a um belo espécime paraguaio; durante alguns dias juntaram-se as duas jaulas, para que assim os dois prisioneiros, ainda apartados, fizessem camaradagem. Mas bastou a nova companheira penetrar o compartimento do "Lopez", para que esse lhe saltar à nuca e com a primeira dentada lhe triturasse duas vértebras; a morte da pobre noiva foi instantânea, como se lhe talhassem o pescoço a machado.
Muitos caçadores afirmam que a onça imita o pio do macuco, e com tal perfeição, que, o caçador, enganado, se acerca da fera, atraído pelo pio com que essa lhe respondera.
Outros caçadores, porém, o negam, nunca lhes tendo constado casos semelhantes, bem documentados. Freqüentemente, dá-se, porém, o inverso, pois é certo e, aliás, muito natural entre os felinos, bem como muitos outros carnívoros, procurem o macuco que ouviram, assim, também acudam ao pio do caçador. Escondido no embaiá e piando o macuco não raro acontece ao caçador, quando embrenhado na mata em que haja onças, ser uma dessas que se lhe apresenta ao tiro de... chumbo fino! Característico é o estalido seco e repetido com que a onça se trai, ao mover nervosamente as orelhas, que, então, produzem como que o som abafado de castanholas.
A área de distribuição dessa espécie estende-se do Texas ao Norte da Patagônia. Depois de cento e poucos dias nascem os cachorros, nunca mais de três, e que alcançam o desenvolvimento completo no terceiro ano.

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