terça-feira, 18 de março de 2008

O Mar e suas surpresas


O mar e suas surpresas.

Quando vamos pescar no mar, devemos estar preparados para tudo, porque além daquelas espécies mais comuns de ocorrer no lugar onde estamos, muita coisa inesperada pode acontecer, as vezes frustrantes, as vezes surpreendentes. Tenho para contar alguns casos que presenciei, e que podem servir de exemplo do que pode acontecer.
No final dos anos 60, realizou-se em Joinville um show com o grande baiano Dorival Caymi. Depois do espetáculo o artista ficou alguns dias na cidade, a convite do pai de um amigo meu, e realizaram diversos passeios e outras atividades, entre elas uma pescaria.
Na pescaria, além do pai do meu amigo, foi além do artista, o então ministro dos transportes Coronel Mario Andreazza, meu amigo e eu. Munidos de uma autorização do exército, fomos pescar no costão do Forte, em São Francisco do Sul. Foi uma boa pescaria, onde pegamos onze anchovas, e como curiosidade, o Coronel Andreazza fisgou uma tartaruga marinha em sua linha. Veio que nem peixe, beliscou e foi ferrada.
Passou-se o tempo, e depois de alguns anos voltei sozinho no mesmo lugar, meio escondido, porque era proibido pescar naquele costão.
Não estava dando nada, mas de repente, ao recolher a linha, senti o peso de alguma coisa meio inerte na ponta do meu anzol. Com dificuldade arrastei o objeto, que ao chegar à superfície revelou um contorno arredondado. Imediatamente pensei numa tartaruga.
Entusiasmado com a perspectiva, trabalhei o bicho, até que, ao sair da água, mostrou-se em toda a sua realidade. Era um pneu de bicicleta....
Outra vez, estava pescando na Barra do Sul, em frente ao restaurante do Chico, e algumas gaivotas estavam na água, pouco depois da arrebentação. Senti umas puxadas fortes na linha, e vi uma gaivota ferrada no meu anzol. Eu não sabia o que fazer, e tentei tirá-la da água para desengatar o anzol e salvar o bichinho. Mas a linha era muito fina, e acabou por arrebentar, e a gaivota voou levando o chicote com dois anzóis e a chumbada. É bom saber que eventualmente uma ave marinha pode se interessar pela isca...
Mas a surpresa mesmo aconteceu quando estava pescando na lagoa da Gamboa, em São Francisco do Sul. É a mesma lagoa da Barra do Sul, só que do outro lado. A praia de areia se estende por um raso de cerca de 100 metros até chegar ao canal, que ali tem de 6 a 8 metros de profundidade. Era um final de tarde, sem nenhum vento, e lagoa parecia um espelho naquele cenário paradisíaco. Completamente só, nenhum ruído quebrava a tranqüilidade do lugar, estava com água pelo joelho, pescando no canal.
De repente, uma lontra pos a cara fora da água bem na minha frente, e soltou um bufido ao emergir, desaparecendo em seguida. O susto foi tão grande que caí sentado...

Histórias de Pescaria


História Inacreditável
As histórias de pescaria têm fama de mentirosas. Já falei sobre isso antes, pois cada pescaria é diferente, e depois, quando o pescador conta o que realmente aconteceu, todos já dão um desconto, pois acham que provavelmente é mentira.
Na verdade, muitas são. Por exemplo, o pai de meu amigo Franco contou certa vez, jurando que era verdade, que estava pescando lambari no Rio da Vargem, próximo de Curitiba. Era tanto lambari que vinha um atrás do outro, jogar e tirar. Certa feita, a bóia afundou, ele puxou e veio na ponta do anzol um olho de lambari, ainda sangrento. Ele jogou o anzol iscado com aquele olho, puxou de volta e veio um lambari sem um olho.
O velho Franco garantiu que era verdade, mas eu confesso que acho difícil acreditar numa história dessas, mas algumas vezes aconteceram comigo coisas que os outros não acreditam, apesar de serem verdade. Por exemplo:
Certa feita, estava pescando na Barra do sul, exatamente na boca da barra. Eu usava duas varas, uma pequena, com linha fina, na mão, e outra maior, linha 0,50, na espera, fincada no secretário. Para quem não sabe, secretário é um pedaço da cano de pvc fincado na areia, que suporta a vara de pescar.
Pois bem, eu já tinha pescado dois robalos na vara de mão, quando de repente a vara fincada começou a dar linha, fazendo aquele ruído característico. Rapidamente, larguei a vara que tinha na mão, peguei a outra, tentando parar o peixe. Não deu tempo. A linha saiu toda, chegou ao fim e arrebentou. Frustado, olhei para o mar e notei que naquele momento um barco de pesca estava entrando na barra. Calculei que a linha tinha enroscado nele, por isso arrebentara. Mas, continuei pescando, agora só com uma vara.
Cerca de uma hora depois, ao recolher a linha, trouxe engatado o meu chicote que perdera antes, com os três anzóis iscados e a chumbada, tudo arrebentado exatamente no nó. E hoje, quando eu conto esta história, muita gente não acredita.
Cada vez que vamos pescar é uma nova história. O problema é que depois, se vamos contar aos outros o que aconteceu, poucos acreditam, e então se cria a fama de que todo pescador é mentiroso, o que nem sempre é verdade.
Outra história:
Certa feita, fui pescar sozinho na Barra do Sul, e foi de ônibus. Levei uma vara telescópica, uma mochila contendo garrafa de água, lanche, caixa de pesca, molinete e espaço para o peixe.
Desembarquei do ônibus no ponto do Restaurante do Chico, para pescar na praia em frente. Montei o equipamento, isquei, arremessei e Zupt! O peixe pegou na caída. Era uma corvina vermelha, com mais de 2 quilos de peso. Peixe grande, que encheu a mochila.
Era por volta das 9 e meia da manhã, dia útil, e minha pescaria estava acabada, pois se eu continuasse a pescar, poderia pegar outro peixe, e não teria como colocá-lo na mochila.
Resignado, desmontei o equipamento, guardei tudo na mochila e fui ao restaurante em frente, onde sentei para tomar cerveja enquanto aguardava o ônibus de volta.
Enquanto não chegava o ônibus, fiquei pensando no absurdo da situação: Viajei mais de uma hora, gastei meia hora entre montar e desmontar o equipamento, e praticamente não pesquei, pois aquela corvina simplesmente acabou com meus planos de passar algumas horas a beira mar, numa tranquila e relaxante pescaria.

Molinete


Molinete
O molinete é um dispositivo destinado a facilitar o arremesso e o recolhimento da linha. Comparativamente, um pescador usando o molinete arremessa a linha muito mais vezes, num mesmo espaço de tempo, do que um com linha de mão, e os lançamentos são muito mais precisos. O pescador habilidoso consegue arremessar a linha exatamente onde ele quer.
Seu funcionamento é relativamente simples; ele é capaz de enrolar a linha num carretel, e mediante o levantamento de uma peça de arame, liberar a linha para sair com facilidade.
No carretel há um dispositivo de fricção que permite que a linha saia do carretel sem levantar a peça de arame. Esta fricção é regulável, e serve para evitar que a linha se parta quando puxada violentamente, e também para cansar o peixe grande, pois ele só consegue levar a linha após fazer uma determinada força, que é controlada por meio de ajuste. Quer dizer, se a fricção estiver frouxa, a linha sai com facilidade, se estiver apertada será necessário uma força maior.
O importante é ter em mente que o molinete é um instrumento destinado apenas a facilitar o manuseio da linha, tanto nos lançamentos como nos recolhimentos, e nunca para fazer força. Se for preciso fazer força, ou para trazer um peixe ou desenroscar a linha, deixe isso para a vara. Proceda assim: Com o molinete travado, puxe a vara para cima, depois abaixe-a e recolha a linha. Repita essa operação até tirar o peixe, ou desengatar a linha.
A manutenção do molinete é simples, basta lavá-lo bem com água doce após o uso, e e nunca usá-lo para fazer força. Quanto a lubrificação interna, não é necessário, pois eles já vêm lubrificados de fábrica, e se você não abri-lo, ele estará convenientemente lubrificado por praticamente toda a vida útil.
Quanto à escolha do molinete, você deve considerar o tamanho da vara, e do bolso.
O tamanho da vara deve ser proporcional ao do molinete, de maneira que se forme um conjunto equilibrado.
Já em relação ao preço, eles se dividem entre os nacionais e os importados. Os importados são melhores e mais caros, mas o inconveniente é que dificilmente se encontra peças de reposição, por isso eu prefiro os nacionais.

Campeonato de Pesca


Campeonato de Pesca
A cidade de Joinville é um dos maiores centros da prática da pesca de arremesso do Brasil. São milhares de praticantes, organizados em equipes, e são inúmeros os campeonatos ou gincanas que acontecem durante o ano, nas praias do estado.
Existem dois tipos de competição: Os campeonatos propriamente ditos, dois quais participam os Clubes de Pesca e as Equipes mais organizadas, e as gincanas ou torneios, abertos a todos, normalmente promovidos por uma empresa ou associação. Estas gincanas podem ser também fechadas, restritas aos membros da organização promotora.
Estes eventos podem ser realizados em uma ou duas etapas. No caso de ser em duas etapas, o normal é uma no sábado à tarde, e outra no domingo de manhã. Excepcionalmente ocorrem eventos como as 24 Horas de Florianópolis, onde a competição é contínua, como o próprio nome já diz.
As equipes podem ser compostas de seis elementos, sendo cinco pescadores e um fiscal, ou então por duplas de pescadores, e existem também os torneios individuais.
O regulamento da competição é decisivo na forma da equipe atuar. Existem regulamentos que privilegiam a quantidade de peixes pescados, outros que privilegiam o peso do peixe. Por exemplo, um regulamento que dá 3 pontos por peixe pescado e mais l ponto por 100 gramas ou fração obrigará a equipe a se concentrar nos peixes menores, em maior quantidade. Por outro lado, um regulamento que dá um ponto por peixe e 3 pontos por 100 gramas ou fração fará a equipe tentar pegar os peixes maiores, ainda que em menor número.
Conhecido o regulamento, a equipe se prepara de acordo, e leva o material mais indicado para o tipo de pesca a que se propõe.
Outro ponto muito importante é a raia que cada equipe recebe por sorteio. Existem locais que têm mais peixes, e a equipe que tiver a sorte de pegar um local assim, já está com meio caminho andado para vencer a competição. Por exemplo, nos campeonatos realizados na Praia Grande, São Francisco do Sul tradicionalmente as equipes vencedoras se localizam nos pontos mais afastados da Enseada.
As equipes chegam antes da hora do início da competição, e usam o tempo para testar os equipamentos, adequando-os às correntes e aos ventos. É nesta hora que se escolhe o diâmetro da linha e o tamanho e tipo da chumbada.
Quando se inicia a competição, sob a orientação de seu Capitão, a equipe procura encontrar a distância ideal para o arremesso, para descobrir onde estão os peixes. Para isso, variam as distâncias, e encontrado o ponto ideal, os pescadores concentram seus arremessos lá. Se por acaso não se consegue definir uma distância ideal, os pescadores costumam pescar da seguinte forma, no caso de serem cinco: O do meio arremessa o mais longe possível, os que estão a seu lado ficam numa distância intermediária, e os dois da extremidade procuram pescar na parte mais rasa, visando os peixes que vêm se alimentar na espuma da onda. Muitas vezes, quando a onda recua, os anzóis podem até mesmo ficar fora da água. Dessa forma, a equipe assume um posicionamento em forma de V, e como nas duas extremidades o arremesso é mais curto, diminui-se a possibilidade de enroscar a linha com a do pescador da equipe ao lado. Deixando de lado a parte técnica da coisa, vale ressaltar que as gincanas de pesca são ótimas ocasiões para a confraternização entre os praticantes da pesca de arremesso. Ri-se muito, conta-se e ouve-se muitas histórias, e trocam-se muitas idéias e experiências entre os pescadores. Sobre isso, poderia escrever um capítulo inteiro apenas falando sobre o que acontece após uma gincana, ou na noite de intervalo entre duas etapas. Acontecem coisas incríveis.
Mas, não se pense que os campeonatos ou gincanas de pesca são apenas ocasiões de descontração e alegria. Às vezes fica sério. Estou falando sobre os Campeonatos oficiais, exclusivos para os Clubes filiados à Federação, onde além de pescar, os participantes têm que mostrar sua perícia em provas de arremesso no seco, sem anzóis na linha, para ver quem tem o arremesso mais longo ou mais preciso. Não posso falar com profundidade sobre estas provas, pois nunca participei, mas que elas existem, existem.
De qualquer forma, participar de um campeonato ou gincana de pesca é uma experiência muito gratificante. Junta-se um grupo de amigos praticantes da pesca de arremesso, escolhe-se um nome, providencia-se um uniforme, e depois é só combinar a estratégia.
Decide-se sobre a alimentação, as bebidas, alojamento dos atletas, transporte, iscas, etc. Depois de tudo combinado, a equipe parte para a competição, donde só pode advir diversão e alegria, pois na pior das hipóteses, se não conseguir classificação, seus integrantes voltarão mais unidos como equipe, e acrescidos em sua parte técnica pelo acúmulo de experiência e intercâmbio de informações, além de terem tido o prazer de participar de mais uma pescaria.

Pescaria de Costão


Pescaria nas pedras

Para pescar nas pedras (pescaria de costão), precisamos levar em consideração os fatores relacionados às condições metereológicas, o equipamento a ser usado, o peixe que desejamos, o ambiente ecológico que vamos explorar e as regras de segurança.
Após as grandes ressacas, muitos alimentos se desprendem das pedras, o que vai atrair os peixes, que apreciam os crustáceos, moluscos, vermes, etc... O vento também deve ser considerado, pois da sua intensidade deduzimos o diâmetro da linha e o peso da chumbada.
O equipamento deve ser adequado. Por exemplo, a chumbada deve ser do tipo gota d’água para não enroscar com facilidade, o tamanho do anzol deve ser compatível com o peixe e a isca.
Os peixes que habitam os costões geralmente têm dentes fortes para quebrar o alimento, e também têm o costume de se abrigar em tocas, por isso, depois da fisgada não devemos dar tempo para que ele se abrigue, pois então fica difícil desalojá-lo. Neste sentido, é bom ficar atento para a fisgada da garoupa, que costuma puxar a isca devagarinho para trás.
As melhores iscas são aquelas que o peixe normalmente encontra naquele lugar. O pescador deve estar preparado para colher as iscas no local da pesca. Para não perder muito tempo, eu costumo levar duas varas, uma iscada com camarão, que é lançada logo na água e fica fincada na espera, enquanto você procura as iscas (mariscos, caramujos, baratinhas, caranguejinhos, vermes, etc...)
Normalmente as pedras que são bastante freqüentadas já possuem suportes de PVC cimentados, que os pescadores fixam antes da pescaria. Não creio que isso seja uma agressão ao meio ambiente, porque não ficam dentro da água e não devem poluir ou contaminar o ambiente. Visualmente, não fica muito bonito, mas, vá lá. São úteis.
Os peixes que você pode esperar no costão são principalmente a garoupa, o badejo, o bodião, a salema,o xarelete,o marimbau, o robalo,o pampo,a miraguaia. Também existem peixes miúdos, como o amborê ou papa-isca, pampinhos, escrivãos, sardinhas, agulhas. e outros, que também podem ser aproveitados como iscas.
Normalmente, o fundo do mar nas costões é cheio de pedras, por isso você deve usar aquelas chumbadas que têm formato hidrodinâmico, e quando recolhidas rapidamente, deslizam sobre a água.. Mesmo assim, esteja preparado para substituir o equipamento, pois a probabilidade de enroscar o chicote é bastante alta, por isso os pescadores dizem que “Quem vai pro mar, se avia em terra...”
Quanto a segurança, todo cuidado é pouco, pois mesmo uma área seca pode ser repentinamente lambida por uma onda inesperada. Por isso, nunca dê as costas para o mar, porque, como dizem os pescadores do Farol de Santa Marta, “O mar é vivo”. E também evite ir pescar sozinho, pois você poderá precisar de ajuda. E fique atento também com o pisar nas pedras, pois um escorregão pode ser até mesmo fatal.
Tomando todas essas medidas, a pesca de costão é muito satisfatória, mas exige perseverança. Leve água, lanche, passe bloqueador solar, e certamente terás algumas horas de relaxante diversão.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Os Crustáceos


Crustáceos
Os crustáceos são os animais que apresentam o corpo revestido por um exoesqueleto ou carapaça chamado crosta ( do latim crusta). Este exoesqueleto é constituído principalmente por uma proteína chamada quitina, que é fabricada pelo próprio corpo do animal. Quando o animal cresce e seu corpo não cabe mais dentro da crosta, esta se rompe, e o corpo produz uma nova carapaça, maior. Este fenómeno é chamado de ecdise.
Para nós, os aficionados das pescarias, os crustáceos que nos interessam são os siris, os caranguejos, os camarões e as lagostas. Neste capítulo, vamos ter uma visão geral destes animais, e depois vamos nos concentrar na pescaria e na preservação de cada um deles.
Estes quatro grupos apresentam todos eles, cinco pares de patas, por isso são classificados como Crustáceos Decápodes. Os crustáceos decápodes podem ter o corpo ( ou rabo) curtos ou compridos. São então chamados de braquiuros ou macruros.
Já podemos então classificar como crustáceos decápodes braquiuros os siris e os caranguejos, e como crustáceos decápodes macruros os camarões e as lagostas.
Há quem confunda siris e caranguejos, mas eles são facilmente diferenciados. Os Braquiuros todos possuem o quinto par de pernas, o da frente, transformados em garras, mas os siris apresentam duas garras do mesmo tamanho, e os caranguejos apresentam uma grande e outra pequena. Também os caranguejos podem voluntariamente sair da água, podendo sobreviver dias, até meses. Os siris morrem em poucas horas se retirados da água. Os siris apresentam o primeiro par de patas, o de trás, transformados em pequenas pás que lhes servem de nadadeiras, os caranguejos apresentam quatro pares de patas adaptados à locomoção sobre o solo. Afora isso, há também diferenças na alimentação. O siri alimenta-se exclusivamente de carne, podendo caçar, ou se encontrar uma carcaça qualquer, não a desdenha, mesmo que já esteja em decomposição. Já os caranguejos alimentam-se de carne, e também de folhas e frutos que encontram pêlos mangues.
Quanto às diferenças entre camarões e lagostas, a principal é que as lagostas possuem o par de patas da frente transformados em garras ou quelíceras, que servem para apreensão dos alimentos. Note-se que o chamado camarão ferro, ou pitu, pertence ao grupo das lagostas, pois possuem quelíceras.

Camarão no Facão


Camarão no facão
Alguns amigos riram muito, como se eu tivesse acabado de contar uma piada, quando lhes contei que era possível pegar camarão usando um facão e uma lanterna. Alguns dias depois, tive a oportunidade de demonstrar isso ao vivo e em cores, e eles não riram mais, pois contra fatos não há argumentos.
Claro, que usando um facão você não vai conseguir pegar quilos e quilos de camarão, mas, para capturar umas iscas para o outro dia, vocês vão ver que é bastante fácil, e rápido. Inclusive, com a prática, logo se descobre que até é possível capturá-los vivos, apenas com a mão.
Primeiro, precisamos compreender o funcionamento do camarão. Ser preferencialmente marinho, também pode ser encontrados em águas salobras, e mesmo algumas espécies conhecidas como pitu, são encontradas em rios, a muitos quilómetros do mar. Zoologicamente, são classificados como Crustáceos, Decápodes, Macruros. Como a maioria dos seres articulados, costumam ser mais ativos à noite. Alimentam-se de detritos animais e vegetais, e alguma caça miúda. Podem ser cevados em determinado lugar, mediante a colocação de uma isca especial para eles, chamada Engodo. Mas isso não será tratado aqui. O principal é saber que estes animaizinhos costumam passar o dia escondidos na areia, onde se enterram, deixando para fora apenas os dois olhos, que são salientes. Além disso, praticamente todos os animais aquáticos apreciam comer camarão, pôr isto ele se tornou um animal arisco, e desenvolveu algumas defesas . Entre elas, a capacidade de imitar a cor do fundo de areia onde ele se encontra, e a habilidade em dar seguidos saltos sobre a água, usando os músculos da cauda, o que lhe permite cobrir rapidamente distâncias consideráveis, para um camarão, é claro. Com três ou quatro pulos, ele consegue se distanciar alguns metros do perigo. Fora isso, usando suas dez perninhas, ele nada pela água, mais lento que qualquer peixe.
Então, ao se sentir ameaçado, o camarão pula sobre a água para se afastar do perigo, ou então enterra-se na areia, na esperança de não ser mais visto. Só que, ao fazer isto, ele deixa os dois olhos de fora, e quando atingidos pôr uma luz forte, como a da lanterna, seus olhos brilham em tons de vermelho, ficando bem visíveis. É este o momento para pegá-lo com o facão. Você sabe que para trás daqueles olhos brilhantes se encontra o corpo do camarão. Então, cuidadosamente, introduza a lâmina do facão na água, para neutralizar o efeito da paralaxe, e posicione a lâmina bem em cima da posição dos olhos, e abaixe repentinamente o facão, de forma a cortar a cabeça do camarão. Depois é só juntar o corpo e guardar num saco, no bolso ou no samburá, conforme o caso.
Se você deseja pegá-lo vivo, substitua o facão pela mão, o que requer muita prática e agilidade. Mas, se você tiver um puçá de malha fina, fica mais fácil. Basta deitar o puçá sobre o camarão enterrado, e então pegá-lo pôr sobre a malha, que vai estar imobilizando o bichinho.
Os melhores lugares para pegar o camarão são aqueles que não apresentam ondas, pois elas revolvem o fundo de areia, dificultando a visão. Posso citar, em nossa região, as praias de Capri, Paulas, Laranjeiras, Gamboa, do Lixo, como locais onde eu pessoalmente já peguei camarões usando este método.

Baiacu


BAIACU
Valho-me do meu "Dicionário dos Animais do Brasil", de Rodolpho von Ihering para situar zoologicamente o baiacu. E peixe do mar, da ordem dos Plectógnatos, Gimnodontes. Gimnodonte quer dizer que em vez de dentes isolados, têm os maxilares guarnecidos de placas. Pode apresentar duas placas inteiriças, em cima e em baixo, e então são chamados Diodontideos. Também há os que tem a placa inteiriça no maxilar superior e duas no inferior, que são chamados Triodontídeos, e por fim os Tetraodontídeos, nos quais as duas placas são divididas ao meio. Existe também uma espécie de água doce, encontradiço no Amazonas, chamado Mamaiacu, dos Tetraodontídeos.
Estas por assim dizer, placas dentais, são afiadissimas e muito fortes. Chegam a cortar a linha sem que o pescador nem mesmo sinta a beliscada. Se você estiver pescando, e de repente a linha do anzol vier cortada, desconfie do baiacu. Só se está garantido usando um empate de aço, e mesmo assim, já vi empate de aço marcado pela dentada do baiacu.
Mas, de qualquer forma, são peixes, e como tais, podem ser pescados, e inclusive contam pontos nos campeonatos de pesca. Aliás, muitos pontos, pois são pesados, e alguns podem atingir 3 palmos de comprimento.
Quanto a comer o baiacu, há controvérsias. Existem os fãs incondicionais do baiacu, e aqueles que o abominam, por ser venenoso. Entre os defensores da carne de baiacu, conheci um senhor, que morreu após comer carne de baiacu, numa pescaria.. Aliás, a única vez que comi carne de baiacu foi em sua casa de praia de Ubatuba, em forma de quibe, sem saber o que era.
Um amigo viu, em Londrina, o baiacu limpo, ser vendido em peixarias, sob o nome de "Cascudinho do Mar". Estavam sem pele, mas conservavam o rabo, que é facilmente reconhecido. A bem da verdade, a carne do baiacu é branca, com pouco espinho, e tem uma aparência bastante apetitosa.
No entanto, sabe-se que o baiacu produz uma toxina que inibe o centro respiratório dos mamíferos, e esta toxina é armazenada na vesícula biliar. O povo fala que o veneno está no fel, e que se o peixe for limpo sem que se rompa o fel, não há perigo. Mas, a literatura a respeito do assunto é bastante controversa. Dizem alguns que há espécies venenosas, outras não. Outros dizem que em certas épocas, como por exemplo, a da reprodução, eles se tornam venenosos. Outros ainda sustentam que depende do jeito de limpar o peixe sem que o veneno contamine a carne. Finalmente, há os que afirmam que todas as espécies são venenosas em determinadas épocas, só que não se sabe quais são estas épocas. Quanto a mim, acho que, se for o caso, não havendo mais nada para comer, devemos comer o baiacu, pois não vejo diferença entre morrer de fome ou envenenado, portanto, vá lá...
Ainda sobre a toxina produzida pelo baiacu, a título de curiosidade. Dizem que no Haiti, os feiticeiros Vodu usam este veneno para produzir o Zumbi. Funciona assim: A vítima é envenenada, e aparentemente morre de parada respiratória, sendo então enterrada. À noite, o feiticeiro vai ao cemitério, desenterra a vítima, aplica-lhe um antídoto, e esta volta à vida com uma lesão no cérebro, devido à falta de oxigenação, tornando-se então um Zumbi.
Agora, quanto à pesca do baiacu, é simples. Ele é muito abundante nas águas das baías onde haja despejo de esgoto no mar. Por experiência, posso afirmar que, quanto mais esgoto, mais baiacu. Por exemplo, na baía de Paranaguá, na Babitonga, em Santos e São Vicente o baiacu é tanto que pega em qualquer isca, e antes que os outros peixes consigam se aproximar.

Ostras


As ostras
As ostras são animais interessantes. Zoologicamente, são classificados como moluscos bivalves lamelibrânquios. Molusco porque são moles, bivalves por possuírem duas valvas ou conchas, e lamelibrânquios porque suas brânquias são em forma de lamelas. É uma estrutura semelhante a uma renda que é visível em toda a circunferência externa do corpo do animal.
As ostras se reproduzem sexuadamente, só que cada animal é alternadamente macho e fêmea. Quer dizer, numa estação de reprodução a ostra produz espermatozóides, na outra produz óvulos.
Elas se alimentam assim: A ostra, dentro da água, entreabre as valvas e vibra as lamelas, fazendo a água passar pelo interior de seu corpo, filtrando cerca de 20 litros de água por hora. Com isso ela retém os nutrientes contidos na água. Não só os nutrientes, mas tudo o que se encontra dissolvido ou suspenso na água, inclusive bactérias e metais, nos casos de água poluída.
Quando a temperatura da água atinge 20 graus Celsius, elas entram em reprodução, e a ostra macho solta espermatozóides na água, que são absorvidos pelas fêmeas, fecundando os óvulos. Então a fêmea expele as larvas, que bóiam na água como parte do plâncton, até atingirem um local de fixação. Uma vez fixadas, ficam naquele local para sempre. A fixação é maior na linha de maré (aquela parte que as vezes está seca, as vezes coberta de água). Só que as ostras que se fixam na linha de maré crescem menos, porque, como já vimos, ela se alimenta filtrando água, e se passar algumas horas por dia sem água, não se alimenta, portanto não cresce.
Resumindo, podemos dizer que na linha de maré a fixação é grande, e o crescimento é pequeno; abaixo da linha de maré a fixação é menor, mas o crescimento é mais rápido, e a ostra se torna adulta com um ano de idade.
Isto é importante no manejo da espécie, pois se formos tirar ostras na linha de maré, e encontramos, por exemplo, uma pedra ou um pedaço de pau coberto de ostras pequenas, basta colocarmos aquela base na água mais profunda, para voltarmos no próximo ano e colhermos ostras grandes.
Agora que já sabemos como vivem as ostras, vamos ver como pegá-las. Existem as ostras que se fixaram nas pedras, e outras que se fixaram nas raízes do mangue. Para tirar as ostras das pedras, o mais recomendado é uma chave de fenda comprida, nos mangues o melhor é um facão. Mas o importante é ter consciência para não acabar com as ostras do lugar, pois se apenas tirarmos e não tivermos cuidado para garantir a sobrevivência e a reprodução da espécie, em breve não existirão mais livres na natureza.
Para preservar, evite colher ostras no verão, pois é o período da reprodução, devido ao aumento da temperatura da água. Não pegue as ostras pequenas, e se for possível, transplante as ostras da linha de maré para a água mais funda, para possibilitar seu crescimento.
Colhidas (ou compradas) nossas ostras, vamos ver como prepará-las. Sabemos que as ostras se transformam num depósito de tudo o que existe na água onde vive, por isso, devemos limpá-las bem antes de comer. Para isso, escove as cascas debaixo da água corrente, para tirar o lodo e as algas. Para limpá-las por dentro, coloque as ostras numa bandeja funda o suficiente, e cubra-as com água limpa do mar ( ou uma solução a 35% de água e sal), tomando cuidado para que uma ostra não encoste na outra, pois elas vão se abrir e começar a filtrar a água limpa, eliminando a sujeira, e quando elas se abrem, movem-se um pouco, e quando a ostra ao lado sentir o mínimo movimento, ela se fecha. Por isso, elas devem ficar afastadas umas das outras. Leve a bandeja ao sol, e em 10 minutos todas elas deverão estar entreabertas, filtrando a água limpa, e expelindo matérias sólidas que estavam retidas em seu corpo. Você logo notará que a água fica suja, então troque-a quantas vezes for necessário, até que a água na bandeja permaneça limpa. Então as ostras estarão prontas para o consumo, sem riscos para a saúde.
Quanto à forma de preparo, a ostra pode ser comida crua, assada na brasa ou na chapa, cozida ou ao bafo, depende da escolha de cada um. Elas são um alimento altamente protéico, e rico em cálcio. Não se recomenda comer mais do que cinco dúzias por pessoa.
Agora que já sabemos alguma coisa sobre as ostras, vamos cuidar para que elas não sejam exterminadas pela ganância e pela ignorância, e incentivar a criação em cativeiro, para que sejam preservados os bancos naturais, que são importantes para o equilíbrio de todo o ecossistema marinho.

A pedra da Indignação


A Pedra da Indignação
A Pedra da Indignação tem este nome devido a um pescador que ficou indignado ao ver que não sabia nada de pescaria. Ela fica situada no centro de Ubatuba, e recebeu tal nome numa segunda-feira de carnaval, no início dos anos 90. Claro que apenas eu, meu amigo Tófano e seu filho Cezar, sabemos da origem do nome da pedra, pois nós a batizamos.
Tudo começou quando fomos pescar no início da praia de Itaguaçu, e encontramos nosso pesqueiro favorito, no canto das pedras em frente à bica d'água em Ubatuba, tomado por banhistas. Era de manhã. Munidos de equipamento leve, próprio para pescar na espuma ( Varas de fibra de grafite, molinetes pequenos, linha 0,20 mm, anzóis Mustad pequenos, com afiação química), resolvemos pescar das pedras, pois a maré estava baixa. Quando a maré está baixa em Ubatuba, pode-se atravessar a pé, de uma praia à outra, por trás das pedras, com água pelo joelho. Portanto era raso o lugar onde fomos pescar.
Chegando lá, encontramos um homem pescando. Era, como dizemos na gíria dos pescadores, um manco. Usava uma vara de fibra de vidro, um reluzente molinete Daiwa, linha 0,60 mm, anzóis grandes, iscados com camarões inteiros.
Demos bom dia, e travamos o seguinte diálogo:
- Muito peixe?
- Nada. Só estou aqui há meia hora...
Montamos nosso equipamento e começamos a pescar. Robalos, pampos, betaras, agulhas, escrivães, rapidamente se acumularam na pedra. O Cezar, que na época era uma criança de sete anos, já tinha pescado dois robalinhos. Então o manco começou a mostrar sua indignação, quando perguntou que isca estávamos usando. Camarão branco, descascado, cortado em cubinhos com uma tesoura cirúrgica de ponta reta.
Continuamos a pescar. Em meia hora tínhamos já dezessete peixes. O manco, já nervoso, veio pedir fogo para acender o cigarro. O isqueiro e meu maço de cigarros estavam na pedra ao nosso lado, e ele se agachou para acender o seu. Ao lado, o Cezar terminava de comer um pacotinho de Chips. Inocentemente, Cezar estourou o pacote vazio nas mãos, e com o barulho, o manco caiu sentado, assustado, perdendo até o cigarro. A custo contivemos o riso.
Como já tínhamos peixes suficientes, comecei a limpá-los na pedra, pois temos o hábito de limpar o peixe na própria praia, e notei que muitos deles tinham camarões inteiros no estômago, sinal evidente que tinham roubado a isca de nosso colega de pedra, o manco.
Finalmente, ele pegou alguma coisa. Um siri, que veio grudado na isca, e soltou-se, caindo sobre a pedra, já correndo de volta para o mar. Desesperado, o manco tentou pegá-lo com a ponta da vara. O siri mergulhou, e o manco por um triz não foi atrás, no afã de conseguir levar alguma coisa para casa.
Indignado, recolheu seus equipamentos e foi embora, sem ao menos se despedir...

_ ps. -Na foto ilustrativa, a Pedra da Indignação está sinalizada como o ponto número 5

Invasão de caranguejos


A invasão dos caranguejos.

Em certas épocas o caranguejo anda. Esquecido dos princípios da segurança, afastam-se das tocas, e nessas ocasiões são capturados em grande número. Não se sabe ao certo o que provoca esse comportamento; tem gente que diz que está relacionado ao acasalamento, mas não sei se é verdade.
Certa vez eu, um amigo e o filho dele, fomos pescar no aterro do Linguado, entre Araquari e São Francisco do Sul, e nossa meta era capturar robalos com isca de camarão vivo. Era uma tarde quente e abafada, com nuvens pesadas no céu, prenunciando uma grande chuva.
Instalados nas pedras do aterro, começamos a pescaria, quando de repente, dos vãos das pedras começaram a sair caranguejos e guaiás em grande número. No princípio não ligamos, mas a quantidade era tamanha que abandonamos os robalos e passamos a catar caranguejos. Quando enchemos nosso isopor, decidimos que não queríamos mais, e fomos embora.
Outra ocasião, estava passando uma semana em nosso sítio na localidade de Gamboa, em São Francisco do Sul. Numa noite choveu muito, choveu torrencialmente mesmo.
Na manhã seguinte, a água da lagoa estava pontilhada de milhares de caranguejos, que eram facilmente apanhados pelos caboclos moradores do lugar. Eles diziam que os caranguejos procuram a água para se limparem. Não sei se o motivo é esse ou se foi a forte chuva que os desalojou do mangue, mas o fato é que eu também colhi algumas dúzias que depois saboreei com os amigos, e estavam ótimos.

domingo, 16 de março de 2008

Uma pescaria de Peixe-Rei


Uma pescaria de peixe-rei
Certa feita, fomos pescar peixe-rei na praia de Capri, em São Francisco do Sul. Munidos de equipamento leve, eu e meu parceiro chegamos na praia em frente ao Hotel às 8 da manhã, na primavera.
Usamos varas de fibra de carbono, molinetes pequenos, anzóis Mustad ponta de cristal, linha 0,15mm, chumbo de lOg, isca de camarão branco descascado, cortado em cubinhos.
Pegamos muito peixe. A pescaria foi tão farta, que, arremessávamos, e o peixe-rei já pegava na descida. Se recolhíamos rápido, vinha um peixe. Se recolhíamos mais devagar, vinham dois.
O sucesso foi tamanho, que juntou gente ao redor para nos ver pescando. Eram 10 horas da manhã, e já tínhamos mais de 300 peixes no samburá. Olhamos aquilo e decidimos: Chega!
Passamos a limpar os peixes, no sistema linha de montagem. O companheiroo descamava com uma faquinha, e eu com uma tesoura cirúrgica de ponta reta cortava a cabeça, abria a barriga, limpava, passava na água e ensacava.
Às 11 da manhã estávamos com cerca de 2kg de peixe-rei, limpos e ensacados, então fomos ao restaurante do Capri Iate Clube para almoçar.
Quando chegou o garçom, perguntei se dava para temperar e fritar os peixes, para aperitivar antes do almoço, com cerveja. O garçom disse que só se pedíssemos ao proprietário, que prontamente autorizou.
Haviam mais duas mesas ocupadas por famílias, que aguardavam o almoço. Quando chegou nossa primeira porção de peixe-rei fritinho na hora, numa mesa próxima chamaram o garçom e também queriam uma porção de peixinho frito. O garçom explicou que não constava do cardápio, que era um caso especial. Como a quantidade de peixe que mandamos fritar era mais que suficiente para nós, convidei a família da mesa vizinha a compartilhar nosso petisco. Logo o pessoal da outra mesa também aderiu. Juntamos as três mesas, e até o dono do restaurante sentou junto.
Comemos todo o peixe frito, o garçom também provou, e até a cozinheira, mais tarde, veio nos dizer que não resistira, e separara uma porçãozinha para levar para casa.

O Corrupto


O Corrupto.

Também conhecido como Tamarutaca, são crustáceos estomatópodes da família Esquilídeos, compreendem 4 espécies do gênero Squilla e outros, assemelham-se à lagosta. Vivem enterrados na areia ou no mangue, e são encontrados porque deixam um buraquinho na areia. Característico deles é o ruído que emitem, semelhantes a uma castanhola.
É uma excelente isca, e para retirá-lo de sua toca é preciso uma bomba de sucção manual, que aspira areia, água, e o bichinho. Essa bomba pode ser encontrada nas lojas de equipamento de pesca, e são bastante simples e duráveis.
Uma vez extraído o animalzinho, ele pode ser cortado em pedaços para ser iscado, ou colocado inteiro e vivo no anzol. Como eles são frágeis, e geralmente se despedaçam no arremesso, recomendo que seja amarrado ao anzol por um fio de látex.
Para procurá-lo, entre na água rasa e vá olhando o chão, até encontrar o buraquinho que é a entrada da toca. Ajuste a bomba no orifício e aspire. Descarregue o conteúdo na areia, e encontrarás o animal, que é semelhante a uma lagosta, mas do tamanho e um camarão.
Todos os peixes da praia apreciam esse petisco, principalmente as betaras.
Sempre tive a curiosidade de saber porque ele é chamado de corrupto. Um amigo disse que é porque ele vive escondido, tem cabeça de camarão e só sai sob pressão...

Pescando o Lambari



O Lambari
O lambari é um pequeno peixe da família dos Caracídeos, e é encontrado em todos os nossos rios, sendo representados por mais de 150 espécies diferentes. São caracterizados por apresentarem dentes serrilhados, e apesar de não apresentarem valor económico, sua pesca é bastante esportiva, e especializada.
Para pescar qualquer peixe, primeiro devemos conhecer seus hábitos, que no lambari são os de um peixe que costuma comer frutas, larvas, e até mesmo pequenos peixes. A preferência é por qualquer coisa pequena que caia na água, produzindo aquele barulhinho "ploc", que tem o poder de atrair qualquer lambari das proximidades. Existem os lambaris grandes e os pequenos, mas vamos nos concentrar nos maiores. Eles costumam ficar ocultos sob troncos submersos, esperando o alimento que a correnteza lhes traz, e sempre atentos aos ruídos de qualquer coisa que caia na água. Por isso, é comum encontrá-los debaixo das pontes e das árvores às margens dos rios, que produzam bagas, sementes e frutinhas, que eventualmente caiam na água. Também costumam ficar nas saídas das corredeiras, à espreita da chegada do alimento.
Por motivo de segurança, se você pretende pescar aqueles que ficam debaixo das pontes aguardando os detritos que o trânsito de veículos derruba na água, evite ficar em cima da ponte, principalmente aquelas das rodovias. Abrigue-se embaixo delas para desfrutar da sombra, e evitar ser atropelado.
Se quisermos aquela miuçalha que abunda nas valetas de irrigação e nos córregos, até mesmo uma linha de costura, amarrada num alfinete dobrado, com um pedaço de minhoca na ponta, num pedaço de pau, já serve, mas nós queremos aqueles maiores, com até 15cm de comprimento, ariscos e ladinos. Para eles reservamos a técnica, o equipamento e a paciência, as armas do bom pescador.
O local deve ser escolhido com antecedência. Prefira um rio de porte médio ou grande, com árvores que estejam florindo ou frutificando, ou então um lugar onde existam troncos submersos, ou mesmo uma ponte.
O equipamento deve consistir em uma vara (de acordo com o tamanho do rio) articulada, de 2 ou 3 segmentos, uma linha fina (0,10 ou 0,15mm de diâmetro), uma bóia ou flutuador regulável, de forma que o anzol na ponta fique próximo ao fundo do rio, um chumbinho pequeno, desses redondos, e um anzol pequeno, de boa qualidade, com cabeça de argola. O chumbinho deve ficar 5cm acima do anzol. O comprimento da linha deve ser cerca de lOcm maior que o da vara.
A isca deve ser massinha, e a sua forma de preparo vem descrita na embalagem. Se você vai pescar sozinho, uma colher de sopa de massinha crua é o suficiente.
Ao arremessar a isca, procure fazer que ela imite o ruído de uma frutinha caindo na água, pois isto vai atrair os lambaris das redondezas. Para melhorar a atração, arremesse um punhado de areia grossa na água, antes de jogar a isca. Já vi alguns pescadores que levam arroz cru, mas isto não é recomendável, pois já usei, e ao limpar os peixes, alguns estavam com a barriga cheia de arroz, e convenhamos, alimentar os peixes antes de pescá-los não é muito recomendável, porque diminui o apetite. Cumpridos estes passos, você pode esperar voltar para casa com cerca de 6 a 10 lambaris de bom tamanho. Procure limpá-los na beira do rio, jogando os detritos na água, pois isto vai formar uma ceva até mesmo para outros peixes, e congele o produto da pesca, e vá acumulando, repetindo diariamente a pescaria no mesmo local. Quando você tiver 9 lambaris grandes por pessoa, pode convidar os amigos para uma boa fritada. E finalmente, a melhor hora para pescá-los vai desde o amanhecer até quando o sol começa a ficar forte, pois considere que estes peixes não se alimentam à noite, e ao amanhecer estão famintos, e comendo tudo o que lhes cai ao alcance da boca.

Pescaria de Siri


Pescaria de Siri
Pesca-se muito siri em Santa Catarina, quer em nível industrial, quer de forma amadora. Não vamos nos aprofundar na pesca industrial, pois o siri é subproduto da pesca do camarão e de peixes, conforme pode ser constatado pela facilidade com que podemos encontrar carne de siri congelada à venda em qualquer peixaria.
O que nos interessa é a pesca artesanal do siri, ótima oportunidade de lazer para as famílias e os amigos, pois além da festa que é a pescaria propriamente dita, a ocasião de preparar e comer o siri reveste-se de uma série de liturgias, que transformam o siri num elemento agregador, contribuindo para o bem estar do Homem, como ser social.
Para pescar, precisamos compreender o siri. Ele é um animal marinho, classificado como crustáceo, decápode, braquiúro. Alimenta-se de carne, portanto esta é a isca. Prefere carne de peixe, mas não enjeita nenhum outro tipo, quer seja tripa de galinha, filé mignon, ou mesmo a dos afogados. A título de curiosidade, cito que em 1973 morreu um cavalo na praia de Capri, São Francisco do Sul. O corpo do desditoso animal foi atirado ao mar, nas imediações do Iate Clube. Nunca se pescou tanto siri naquela área, e camarão também...
Por certo algumas pessoas vão sentir nojo do siri depois dessas informações. Mesmo o grande Jorge Amado já fez isso antes, como se lê, por exemplo, no seu romance "Mar Morto", onde muitos ficam chocados com a descrição dos efeitos da gula do siri no corpo dos afogados que ficam tempo demais no mar. Se considerarmos a Lei de Lavoisier, veremos que isso não tem a menor importância, porque no final, a carne de um animal forma a carne de outro; a famosa cadeia alimentar não tem fim. O leão morto é digerido pela minhoca, que nutre o capim, que nutre o cervo, que nutre o leão, que nutre a minhoca...
Em nossa região, existem três tipos principais de siris: O siri-guaçú, que é azulado e habita as águas próximas aos mangues. O siri da praia, cujo carapaça cinzenta apresenta pinta esbranquiçadas, e o sirí-candeia, de coloração semelhante ao siri da praia, mas que apresenta garras muito mais compridas, encontradiço na praia dos Paulas, em São Francisco do Sul.
Podemos pescar o siri simplesmente com um pedaço de isca amarrado numa linha. O siri gruda nela, e pode ser puxado para fora da água. Este método tem o inconveniente de, se o siri se assustar e largar a isca antes de ser capturado, não será mais possível pegá-lo, porque ele fica esperto.
O método mais usual de pescar o siri é com o uso de puçás. Um puçá consiste num aro de metal fechado com um pedaço de rede, tendo um cabo amarrado. Por medida de segurança, devemos atar à extremidade do cabo uma bóia, para evitar que percamos o puçá se eventualmente o cabo cair na água.
A isca deve ser amarrada na rede que cobre o puçá, e pode ser um peixe ou um pedaço qualquer de carne. Atira-se o puçá na água, e de tempos em tempos, retiramos para ver se algum siri foi pego.
Caso venha o siri, ele deve ser retirado do puçá e metido num saco, que levamos para este fim. Para garantir que sempre existam siris onde pescamos, os indivíduos pequenos e as fêmeas ovadas devem ser devolvidos à água. Além disso, é interessante saber que a garra do siri se regenera, portanto, se você quiser, quando pescar o siri, pode retirar as garras e devolvê-lo à água. Claro que, se retirarmos as duas garras, o animal vai ter alguma dificuldade para se alimentar, mas se ficar desprovido apenas de uma, brevemente estará recuperado, e pode ser pescado de novo.
Para preparar o siri, recomendo colocá-lo vivo na panela com água, sal e os temperos verdes. O siri morto se deteriora rapidamente, por isso, se quisermos comê-lo em outra ocasião, é melhor aferventá-lo primeiro, para depois conservar no freezer ou no congelador.
Certa época do ano, o siri troca de carapaça, devido ao crescimento do corpo do animal. A nova casca leva algumas horas para endurecer, e nesse período ele é conhecido como siri mole. Existe uma receita baiana de moqueca de siri mole, que é mencionada no livro "Dona Flor e seus dois maridos", do já citado Jorge Amado .
Para comer o siri, é preciso uma mesa sem toalha, e alguma coisa para quebrar a casca. Pode ser o cabo de uma faca, mas existem uns martelinhos de madeira específicos para isso. A garra é a parte que tem mais carne. Para retirar a carne da garra e das pernas é preciso quebrar e chupar essas partes do bichinho, o que provoca alguma sujeira e ruídos característicos. É impossível comer siri no escuro, bem como usar garfo e faca para isso. Retirando a carapaça, vamos encontrar carne na inserção das patas. É a musculatura do animal. Existe também um razoável depósito de gordura, e é ela que toma o siri apreciado para fazer sopa. Depois de comer, é preciso juntar todos os caquinhos que sobram, colocar num saco plástico e fechar bem, porque no outro dia ele exala um forte mau cheiro. Geralmente o siri é comido sem acompanhamentos, sendo ele o único prato. Vai bem uma cerveja gelada, ou um vinho branco.
Mas, se você preferir comprar apenas a carne do siri, conforme é vendida nas peixarias e mercados, praticamente não há limites quanto às formas de preparo. Pode-se usá-la para engrossar o caldo de peixe, fazer bolinho, empadas, empadões, casquinha de siri, risoles, e outras coisas que sua imaginação conseguir criar. Além de tudo, é uma carne branca, leve, e de fácil digestão.