segunda-feira, 17 de março de 2008

A pedra da Indignação


A Pedra da Indignação
A Pedra da Indignação tem este nome devido a um pescador que ficou indignado ao ver que não sabia nada de pescaria. Ela fica situada no centro de Ubatuba, e recebeu tal nome numa segunda-feira de carnaval, no início dos anos 90. Claro que apenas eu, meu amigo Tófano e seu filho Cezar, sabemos da origem do nome da pedra, pois nós a batizamos.
Tudo começou quando fomos pescar no início da praia de Itaguaçu, e encontramos nosso pesqueiro favorito, no canto das pedras em frente à bica d'água em Ubatuba, tomado por banhistas. Era de manhã. Munidos de equipamento leve, próprio para pescar na espuma ( Varas de fibra de grafite, molinetes pequenos, linha 0,20 mm, anzóis Mustad pequenos, com afiação química), resolvemos pescar das pedras, pois a maré estava baixa. Quando a maré está baixa em Ubatuba, pode-se atravessar a pé, de uma praia à outra, por trás das pedras, com água pelo joelho. Portanto era raso o lugar onde fomos pescar.
Chegando lá, encontramos um homem pescando. Era, como dizemos na gíria dos pescadores, um manco. Usava uma vara de fibra de vidro, um reluzente molinete Daiwa, linha 0,60 mm, anzóis grandes, iscados com camarões inteiros.
Demos bom dia, e travamos o seguinte diálogo:
- Muito peixe?
- Nada. Só estou aqui há meia hora...
Montamos nosso equipamento e começamos a pescar. Robalos, pampos, betaras, agulhas, escrivães, rapidamente se acumularam na pedra. O Cezar, que na época era uma criança de sete anos, já tinha pescado dois robalinhos. Então o manco começou a mostrar sua indignação, quando perguntou que isca estávamos usando. Camarão branco, descascado, cortado em cubinhos com uma tesoura cirúrgica de ponta reta.
Continuamos a pescar. Em meia hora tínhamos já dezessete peixes. O manco, já nervoso, veio pedir fogo para acender o cigarro. O isqueiro e meu maço de cigarros estavam na pedra ao nosso lado, e ele se agachou para acender o seu. Ao lado, o Cezar terminava de comer um pacotinho de Chips. Inocentemente, Cezar estourou o pacote vazio nas mãos, e com o barulho, o manco caiu sentado, assustado, perdendo até o cigarro. A custo contivemos o riso.
Como já tínhamos peixes suficientes, comecei a limpá-los na pedra, pois temos o hábito de limpar o peixe na própria praia, e notei que muitos deles tinham camarões inteiros no estômago, sinal evidente que tinham roubado a isca de nosso colega de pedra, o manco.
Finalmente, ele pegou alguma coisa. Um siri, que veio grudado na isca, e soltou-se, caindo sobre a pedra, já correndo de volta para o mar. Desesperado, o manco tentou pegá-lo com a ponta da vara. O siri mergulhou, e o manco por um triz não foi atrás, no afã de conseguir levar alguma coisa para casa.
Indignado, recolheu seus equipamentos e foi embora, sem ao menos se despedir...

_ ps. -Na foto ilustrativa, a Pedra da Indignação está sinalizada como o ponto número 5

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