sábado, 22 de setembro de 2007

Comportamento Animal - Pardal


PARDAL — Apesar de sermos inimigos declarados dessa ave estrangeira (Passer domesticus, da família Fringillidae e originária da Europa), devemos agora incluí-la no rol de nossa fauna, pois em vários pontos do país já se acha o pardal aclimado, de forma a não mais podermos nutrir a esperança de um dia vê-lo desaparecer. No Rio de Janeiro, ultimamente -também em São Paulo, Santos e em várias localidades mineiras e riograndenses, o "indesejável" pássaro adquiriu cidadania, como, aliás, já anteriormente o fizera na Argentina; há muito mais tempo nos Estados Unidos e na Austrália. Quando tivemos notícia de terem sido importados e soltos, intencionalmente, alguns casais de pardais no Rio de Janeiro, clamamos contra tal erro do Prefeito Passos (veja nosso livro Contos... de um Naturalista), porém o mal estava feito e, por termos dito a verdade, só lucramos o que em lucra quem desagrada a outros, dizendo-lhes a verdade. Agora só nos resta aceitar, conformados, o que é irremediável e mais tarde, quando o pardal “puser as manguinhas de fora”, terá de recorrer aos mesmos processos de que hoje lançam mão os países nos quais o atrevido passarinho já assumiu as proporções de verdadeiro flagelo[1].
Em resumo, suas credenciais, todas negativas, são as seguintes: não é pássaro insetívoro, que possa prestar serviços na horta ou no pomar, catando pragas; nem por desfastio procura, de vez em quando, saborear um inseto[2], de modo que é um insulto, também sob esse ponto de vista, comparar o pardal com o nosso bom "tico-tico". Só lhe sabem os cereais cultivados, catando-os de preferência na cidade, na rua ou nos celeiros e depósitos. Mas não é esse seu pior feitio, pois não serão essas migalhas que farão maior falta à Nação. Há uma razão mais séria que justifica a geral antipatia, que em toda parte os verdadeiros amigos aves nutrem contra o pardal, antipatia que chega a ser rancor, como o que ditou a Hornaday; as seguintes palavras, ao ter o provecto naturalista de tratar dessa ave, em sua bela História Natural: "Deixai-me molhar a pena em ácido corrosivo; ferve-me o sangue ao pensar que devo escrever seu nome!" É que o pardal, além de tantos outros defeitos, tem o de ser excessivamente briguento e egoísta. Onde ele domina, não admite que outros pássaros do seu tamanho vivam sua vidinha pacata e principalmente útil. Sem cessar, ele atormenta seus pretensos rivais e, para eliminá-los de vez, lança mão de recursos baixos, próprios um pássaro desalmado. Indo aos ninhos dos outros pássaros, joga ao chão os ovos ou os pintainhos e toma posse da casa alheia. Por essa forma em breve elimina da região o passaredo alegre, bem-agradecido, que até então nos pagava com ótimos serviços a simples tolerância com que em geral costumamos manifestar-lhes nossa simpatia [3].
Ao menos, sirva-nos agora de lição essa infeliz importação do pardal: não é assim, sem mais nem menos, que se deve intervir no que está estabelecido pela Natureza - Defendamo-nos contra as pragas existentes, mas não queiramos corrigir atabalhoadamente o que vai indo bem seu bom caminho natural.
Enfim, como nosso papel aqui é registrar e descrever as espécies da fauna e no Brasil e da mesma forma como já demos o perfil das pulgas, da mosca doméstica, ratos caseiros e de outras sevandijas (ou “imundície”, como mais brasileiramente se daremos a seguir os traços característicos do Passer domesticus: é do feitio e do tamanho do nosso tico-tico, porém o corpo é mais esguio, a cauda é um pouco mais curta, e o também menor, é mais grosso e mais bruscamente aguçado. A cor geral é bruno parda com tons ferrugíneos; no macho uma grande mancha preta, em forma de guardanapo, arredondado, estende-se da garganta ao peito; as asas são malhadas de preto, e duas listras brancas atravessam as coberteiras das asas. A fêmea é um tanto mais castanho-ferrugínea).
[1] Nos aviários, é preciso colocar uma tela à prova de pardais, pois eles comem a ração das aves criadas ali, como também são capazes de transmitir doenças de um aviário para outro. O custo dessa tela está incluído no preço das aves que compramos no supermercado. (N. R)
[2] O pardal come insetos sim, principalmente as formas aladas das formigas (içá) e dos cupins (aleluia) (N. R.)
[3] O pardal precisa do homem para nidificar em suas casas. Vedando a entrada do pardal nas frestas dos telhados, rapidamente podemos diminuir o número de indivíduos dessa espécie, porque o pardal não nidifica em árvores. (N.R)
Adendo - Francisco Pereira Passos, foi prefeito do Rio de Janeiro de 1902 a 1906, quando comandou a reforma urbana da então Cidade da Morte(ver A Revolta da Vacina) para se tornar a Cidade Maravilhosa dos dias atuais. Estudou em Paris, onde presenciou a reforma urbana daquela capital, e de onde tirou as idéias e a inspiração de introduzir o Pardal no Brasil, talvez com saudades do pipilar tristonho da ave nas tardes chuvosas do inverno francês...

3 comentários:

Unknown disse...

Qual a origem do pardal?abraços

Tio Chico disse...

O Passer domesticus é originário da Eurásia, mas hoje é cosmpolita. O único continente onde não tenho conhecimento de sua presença é a Antartida...

Anônimo disse...

muito bem as explicaçoes sobre essa ave mas ainda acho que e brasileira originaria de brasilia