segunda-feira, 17 de março de 2008

Baiacu


BAIACU
Valho-me do meu "Dicionário dos Animais do Brasil", de Rodolpho von Ihering para situar zoologicamente o baiacu. E peixe do mar, da ordem dos Plectógnatos, Gimnodontes. Gimnodonte quer dizer que em vez de dentes isolados, têm os maxilares guarnecidos de placas. Pode apresentar duas placas inteiriças, em cima e em baixo, e então são chamados Diodontideos. Também há os que tem a placa inteiriça no maxilar superior e duas no inferior, que são chamados Triodontídeos, e por fim os Tetraodontídeos, nos quais as duas placas são divididas ao meio. Existe também uma espécie de água doce, encontradiço no Amazonas, chamado Mamaiacu, dos Tetraodontídeos.
Estas por assim dizer, placas dentais, são afiadissimas e muito fortes. Chegam a cortar a linha sem que o pescador nem mesmo sinta a beliscada. Se você estiver pescando, e de repente a linha do anzol vier cortada, desconfie do baiacu. Só se está garantido usando um empate de aço, e mesmo assim, já vi empate de aço marcado pela dentada do baiacu.
Mas, de qualquer forma, são peixes, e como tais, podem ser pescados, e inclusive contam pontos nos campeonatos de pesca. Aliás, muitos pontos, pois são pesados, e alguns podem atingir 3 palmos de comprimento.
Quanto a comer o baiacu, há controvérsias. Existem os fãs incondicionais do baiacu, e aqueles que o abominam, por ser venenoso. Entre os defensores da carne de baiacu, conheci um senhor, que morreu após comer carne de baiacu, numa pescaria.. Aliás, a única vez que comi carne de baiacu foi em sua casa de praia de Ubatuba, em forma de quibe, sem saber o que era.
Um amigo viu, em Londrina, o baiacu limpo, ser vendido em peixarias, sob o nome de "Cascudinho do Mar". Estavam sem pele, mas conservavam o rabo, que é facilmente reconhecido. A bem da verdade, a carne do baiacu é branca, com pouco espinho, e tem uma aparência bastante apetitosa.
No entanto, sabe-se que o baiacu produz uma toxina que inibe o centro respiratório dos mamíferos, e esta toxina é armazenada na vesícula biliar. O povo fala que o veneno está no fel, e que se o peixe for limpo sem que se rompa o fel, não há perigo. Mas, a literatura a respeito do assunto é bastante controversa. Dizem alguns que há espécies venenosas, outras não. Outros dizem que em certas épocas, como por exemplo, a da reprodução, eles se tornam venenosos. Outros ainda sustentam que depende do jeito de limpar o peixe sem que o veneno contamine a carne. Finalmente, há os que afirmam que todas as espécies são venenosas em determinadas épocas, só que não se sabe quais são estas épocas. Quanto a mim, acho que, se for o caso, não havendo mais nada para comer, devemos comer o baiacu, pois não vejo diferença entre morrer de fome ou envenenado, portanto, vá lá...
Ainda sobre a toxina produzida pelo baiacu, a título de curiosidade. Dizem que no Haiti, os feiticeiros Vodu usam este veneno para produzir o Zumbi. Funciona assim: A vítima é envenenada, e aparentemente morre de parada respiratória, sendo então enterrada. À noite, o feiticeiro vai ao cemitério, desenterra a vítima, aplica-lhe um antídoto, e esta volta à vida com uma lesão no cérebro, devido à falta de oxigenação, tornando-se então um Zumbi.
Agora, quanto à pesca do baiacu, é simples. Ele é muito abundante nas águas das baías onde haja despejo de esgoto no mar. Por experiência, posso afirmar que, quanto mais esgoto, mais baiacu. Por exemplo, na baía de Paranaguá, na Babitonga, em Santos e São Vicente o baiacu é tanto que pega em qualquer isca, e antes que os outros peixes consigam se aproximar.

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