sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A Verdadeira História de Joinville - Migrantes


O problema dos migrantes

Grande parte dos problemas sociais, senão mesmo a maioria, são motivados pela expressiva quantidade de migrantes que aqui se estabeleceram a partir de 1970, em sua maioria oriundos do sudoeste do Paraná. Eles e seus descendentes constituem uma expressiva parcela da população de Joinville, sendo seu número estimado hoje em cerca de 515.000 pessoas.
Foram atraídas para cá, originalmente, pela grande expansão da indústria, principalmente as metalúrgicas, que naquela época utilizava abundantemente a mão de obra pouco qualificada dos trabalhadores braçais. Não havia gente suficiente na cidade, e a solução foi importar trabalhadores. Naquela época, os ônibus das empresas buscavam seus operários até mesmo nas regiões agrícolas nas proximidades da cidade. Vinha gente de Garuva, Barra Velha, Massaranduba, enfim, de tudo que era lugar das proximidades. A maioria era semi-alfabetizada, e trabalhadores rurais.
Trabalhavam nas fundições, transportando carvão, enchendo moldes de areia, alimentado as fornalhas; faziam mesmo o trabalho braçal. A população regional não era suficiente, e a solução foi buscar trabalhadores no Paraná.
As grandes indústrias facilitavam a vida dos operários recém-chegados. Forneciam transporte, alimentação, até mesmo habitação, favorecendo a ocupação irregular de áreas de mangue, sobre o que falaremos em outro capítulo.
Mas, a necessidade de mais mão de obra aumentou, e os trabalhadores migrantes eram incentivados a convidar os parentes de sua região de origem, para virem também para cá.
Estabeleceu-se um grande fluxo migratório, até que o mercado de trabalho saturou. Mas, a fama de Joinville ser uma cidade que oferecia emprego para todos se espalhou, ao mesmo tempo em que ocorria um movimento de aperfeiçoamento da produção industrial, com a automação e racionalização da produção industrial, gerando um excesso de oferta de mão de obra, com a redução dos salários e dos postos de trabalho,
O resultado disso foi que, não parava mais de chegar trabalhadores sem qualificação profissional, inchando as periferias da cidade, e aumentando a miséria e o número de ocorrências policiais. O problema agravou-se de tal forma, que a Prefeitura estabeleceu um serviço de controle de migrantes na estação rodoviária, que triava os recém-chegados, e em muitos casos, oferecia a passagem de volta para seus lugares de origem. A média chegou a 51 pessoas por dia, sem moradia, emprego, qualificação profissional, instrução e saúde, todos atraídos pela idéia fantástica da Terra Prometida, onde tudo era bom. Mas a realidade era bem outra. Os migrantes sabiam carpir, mas aqui não havia produção agrícola. Não sabiam operar um torno, uma furadeira, fazer uma solda, nada que pudesse ser aproveitado na indústria.
Esses migrantes acabaram ficando por aqui, criando então uma massa de habitantes com baixa escolaridade, pouca educação social, muitas carências e sempre dispostos a reivindicar, mesmo aquilo que nunca tinham tido em suas regiões de origem. Queriam moradia, transporte, educação, saúde, segurança, mas não tinham condições de pagar por estes serviços.
Apoiados por alguns membros da Igreja invadiram os manguezais em torno da cidade. Incentivados por políticos aproveitadores, conseguiram saibro para aterrar o solo, abertura de ruas, calçamento, iluminação pública, abastecimento de água, linhas de ônibus, postos de saúde, escolas, enfim, a sonhada urbanização do mangue. Grandes bairros se formaram assim, na região do Boa Vista, Espinheiros, Aventureiro, Iririú.
Mais recente foi o bairro Jardim Paraíso, que nos foi “presenteado” por São Francisco do Sul, e hoje lidera nossas estatísticas de ocorrências policiais.
Cabe registrar também o grande movimento migratório provocado pela enchente no vale do rio Tubarão, no sul do estado, no início da década de 70. Aqueles migrantes não trouxeram tantos custos sociais, porque eram, em sua maioria, pessoas mais cultas, com boa formação cultural, e mais bem educados para a vida social. Vieram pessoas já com formação profissional, comerciários, comerciantes, estudantes, professores e profissionais como pedreiros, carpinteiros, marceneiros etc..., Sendo grande parte deles descendentes de italianos.
Afora isso, Joinville sempre atraiu habitantes de outros estados, atraídos pelo mercado de trabalho, a tranqüilidade e a boa índole da população.
Em resumo, com a migração, Joinville cresceu muito, e rápido. O custo social foi assumido pelo município, e o lucro da expansão industrial ficou quase todo para os empresários. Tal e qual aquele velho filme da socialização do prejuízo e a privatização do lucro...
Em decorrência do grande afluxo de migrantes, ocorreu também a ação criminosa dos especuladores imobiliários, que, por meio escusos, conseguiram licença para lotear brejos, mangues e arrozeiras, vendendo à prestação para os desavisados migrantes, lotes em regiões impróprias para a habitação humana. E o poder público teve que arcar com mais obras de infra-estrutura, enquanto uns poucos espertalhões enriqueceram. Os exemplos podem ser vistos ainda hoje em certos bairros, como o Fátima, Jativoca, Vila Nova, Lagoinha e o antigo lugarejo chamado de Lagoa Bonita, hoje Morro do Meio.

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