sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A Verdadeira História de Joinville - Estrada de Ferro



A estrada de Ferro.


A Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul foi fundada em 1889, e em 1901 conseguiu a concessão do ramal Iguaçu – São Francisco do Sul. Pelo projeto inicial, o traçado da linha passaria a cerca de 25 km ao sul, sem atingir Joinville.
Em setembro de 1902, a Câmara Municipal dirigiu veemente apelo ao Ministro da Viação, Dr. Lauro Muller, solicitando a modificação do traçado da linha férrea, incluindo Joinville. Em abril de 1903, uma comissão de engenheiros liderada pelo Dr. Leite Ribeiro iniciou o levantamento topográfico, com a inclusão de Joinville no trajeto. Os trabalhos de terraplenagem iniciaram-se em janeiro de 1905, no rumo São Francisco do Sul – Joinville – Itapocú. O primeiro comboio entrou na estação de Joinville em 29 de julho de 1906, às cinco e vinte da tarde.
A construção deste trecho enfrentou grandes dificuldades técnicas: a transposição do banhado do Piraí-Piranga, e o canal do Linguado. Para o banhado do Piraí-Piranga, a solução foi levantar o leito da estrada de ferro em até um metro de altura, com o uso de pedras, como pode ser visto hoje na região do Jativoca. Já a transposição do canal do Linguado foi mais difícil; construiu-se um aterro de pedras entre São Francisco e a ilha do Linguado, e da ilha para o continente, um aterro parcial com uma ponte provisória de 400 metros sobre o canal, que naquele local apresentava a profundidade de até 25 metros. Esta ponte provisória era móvel, deslocando-se lateralmente para permitir a passagem das embarcações que por ali transitavam.
Na época, a boca da Barra do sul apresentava 800 metros de largura. Nos anos 40, a ponte foi substituída por um aterro, que bloqueou a passagem da água do mar naquele canal, o que veio a causar, mais tarde, o assoreamento da Barra do Sul, e do próprio canal, que hoje em dia dificilmente apresenta profundidades maiores que 6 metros. O próprio balneário de Barra do Sul possui hoje extensa área urbana construída sobre a areia depositada pelo mar, devido ao fechamento do canal, e essa areia tende a desaparecer, se o canal for reaberto, causando a destruição da área mais povoada do hoje município de Barra do Sul.
Quando foi inaugurada a estação ferroviária, a cidade se estendia mais ou menos até onde hoje é a esquina da avenida Getúlio Vargas com a rua Anita Garibaldi, e a então rua Santa Catarina não passava de um caminho macadamizado, ladeado por valetas. Com o movimento dos passageiros e das cargas, o caminho foi alargado, estabeleceram-se comércios variados, pensões, bares, etc.
Algum tempo depois, foram criados estabelecimentos industriais, como a Máquinas Raimann e a Fundição Douat, logo depois dos trilhos. Os operários e comerciantes foram ocupando aqueles locais, próximo a seus locais de trabalho, e a cidade foi se desenvolvendo ao longo e ao redor dos trilhos.
Surgiu até um serviço de bondinhos puxados a burro, que faziam o trajeto da Estação Ferroviária até a rua do Norte, hoje João Colin, até a altura onde hoje é o início da rua Max Colin.
A continuação da rua Santa Catarina era o caminho para se atingir Araquari (antiga Paraty) e São Francisco do Sul, bem como outras localidades no vale do rio Itapocú, como Guamiranga, Itapocú, Guaramirim e Jaraguá do Sul, bem como as localidades do litoral norte do estado.
A movimentação através da ferrovia era bastante intensa, com transporte de passageiros e mercadorias entre são Francisco do Sul e o planalto norte, de Rio Negro através de Rio Negrinho, São Bento do Sul, Corupá (Hansa), Jaraguá, Guaramirim, Guamiranga, João Pessoa, Dedo Grosso, Araquari e Linguado.
Houve um período de grande movimentação de madeira serrada, que vinha do Planalto para o porto, não só o de São Francisco, como também o Bucarein, que se localizava no final da rua Inácio Bastos, onde hoje está a ponte Mauro Moura. Era grande a movimentação de mercadorias no porto do Bucarein, onde grandes empresas madeireiras mantinham seus estoques, o que motivou a criação de um sub-ramal, que saia da estação ferroviária, cruzava os depósitos de madeira na área do Bucarein, e se estendia até o cais do Moinho (Cais Conde D’Eu). As cargas de madeiras eram transportadas por batelões puxados por rebocadores, que, por meio do Rio Cachoeira, atingiam o porto de são Francisco.
Havia até mesmo pequenos navios de ferro, que faziam as linhas costeiras de navegação, do Nordeste do país até Joinville.

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